terça-feira, 3 de junho de 2008

Faz parte do meu show!

"Encontro um abrigo no peito do meu traidor..."
Essa frase deveria possuir beleza somente na consagrada música do também consagrado poeta Cazuza. Mas, diante dessa sociedade marginalizada em que vivemos cada vez mais cruel, violenta e imunda, encontrar abrigo no peito do traidor tornou-se uma "normalidade" no dia-a-dia de crianças, mulheres, adolescentes e famílias que tão cedo e tão diariamente vivenciam a ligação do ódio e do amor numa proximidade que chega a me assustar.

Como uma criança consegue amar e até mesmo admirar uma mãe ou um pai que a espanca, a deprecia e até mesmo a abusa sexualmente? Como uma mulher se sente protegida e até mesmo protege um homem que a machuca e deixa marcas de violência em seu corpo, como tatuagem que sangra e eterniza sinais na pele.

Observando de uma maneira fria e distante, me coloco numa confortável situação de expectadora onde “assumo” emoções daquilo que vejo, assisto, permitindo-me ser invadida por expressões de raiva, revolta e pena. Como ao assistir a novela “Duas Caras” onde Maria Paula depois de ser traída, roubada e até quase assassinada, resolve passar seus dias recostada sobre o peito daquele que um dia cometeu tantas barbáries.

Numa novela das 20hs tudo fica tão lindo, tão belo. Mas a realidade é tão dura e cruel que logo corta a nuvem imaginária e feliz que nos cerca neste momento.

Quando me referi às expressões que me cabe ao assistir tais cenas, citei o sentimento de Pena. PENA?

Quando me permito sair desse simples papel de expectadora e passo a ser a protagonista desta cena, o sentimento de menor grau que posso sentir é pena. Talvez pena pelo agressor, por haver um coração e uma mente tão marcados pela maldade, mas nunca pena de mim mesma.

[Quando eu olho o outro, é quando me vejo]

Quem nunca procurou abrigo no peito do seu traidor? Por menor que tenha sido o ato cometido por ele. Quem nunca insistiu em acreditar na inocência daquele que vêm cometendo loucuras ao seu lado e só você não vê ou finge não perceber?

O homem que tanto feriu meu coração no passado e que cometeu tantas loucuras e barbaridades é o mesmo homem que ainda AMO e que venho fazendo planos matrimoniais. Estaria eu buscando abrigo no peito do meu traidor?

Relevo os erros do passado e deixo-me tomar por uma enorme gama de esperança que me faz sonhar com o dia em que tudo isso terá um FIM e eu possa viver “feliz para sempre” ao lado do homem que escolhi viver, como nas histórias infantis que costumava ouvir quando criança.

Onde busco a esperança? Em DEUS, onde mais seria?

Onde por um lado a psiquê de Freud poderia estar me dando base para suportar tal demanda, Deus por um outro lado, ou por um todo, me dá a paz e a certeza de que posso sim levar este sonho à diante.

Quem nunca cometeu um erro que atire a primeira pedra!


E é nessa linha de pensamento que vou levando a idéia desta segunda, terceira ou quarta chance que venho dando a este homem e ao meu coração.

Hoje, vejo provas do fazer divino nele. E é quando ouço a sobrinha se referir a ele como “meu tio novo” é que percebo a proporção desse novo homem que se transforma diariamente ao meu lado.

Procurando abrigo no peito do meu traidor ou não, o importante é que estou FELIZ! Uma felicidade ilusória ou não, não deixa de ser uma FELICIDADE.